Journal

Sobre Ensinar & Aprender

Ensinar não é fácil. Aprender também não é fácil. E fica tudo mais difícil ainda quando nós não entendemos exatamente o que essas palavras querem dizer e qual a relação entre elas. A ideia de ensinar, de aprender, e a dinâmica do aprendizado são três coisas que eu vou tentar resolver aqui.

É interessante como a palavra “ensinar” está carregada de um sentido pouco realizável, a noção equivocada de que alguém pode colocar algo na cabeça de outra pessoa, o que, na prática, nós sabemos, não acontece. Mas o sentido está ali (ainda que tenha se perdido em algum momento da história), a palavra “ensinar” tem uma raiz comum à palavra ”insígnia”. É como se tivéssemos aqui um verbo do substantivo insígnia, insigniar, produzir uma marca. E é com esse dilema que nós, professores, lidamos diariamente em nossas disciplinas: como eu produzo uma marca com isso? Como eu apresento isso de modo que todos entendam e nunca se esqueçam?

Por outro lado, a palavra “aprender” também foi vítima de um desses equívocos coletivos, porque “aprender” nos traz a ideia de uma interiorização instantânea de determinado conteúdo, um fenômeno mágico, que pouquíssimas vezes acontece. “Aprender” é uma palavra composta por duas outras: este “a” é uma redução do prefixo “ad”, que significa “junto”, e prender vocês sabem o que é. Então “aprender” significa levar algo consigo, carregar algo intencionalmente, como aquele que leva um caderno de anotações para todos os lados, ad-preso, por assim dizer, preso consigo.

E há ainda um terceiro equívoco em torno dessas palavras, o da relação que elas têm entre si. Ensinar e aprender são verbos que foram criando uma relação de interdependência que não existe, tanto na linguagem quanto na vida. Não existe essa história de “ele não aprendeu porque você não soube ensinar”. Seria como dizer “ele não carregou isso com ele porque você não produziu uma marca” e, embora carreguemos conosco aquilo que nos é marcante (e isso é o famoso “aprender com a vida” que nossas mães falavam), na vida acadêmica não podemos esperar, não podemos esperar que algo seja marcante para que a gente se lembre. No final das contas, quem segue por esse caminho aprende muito pouco.

Aprender exige disposição, disposição para se prender. E, de livre e espontânea vontade, não é sempre que a gente quer se prender, porque se prender significa dizer não para coisas e pessoas da nossa vida, o que faz de aprender uma espécie de privação da liberdade. Paradoxalmente, essa privação de liberdade instaura uma liberdade ainda maior.

Com essa reflexão, que fique aos alunos e pais de alunos que não têm caminhado bem nos estudos a dúvida a respeito de onde eles estão se prendendo e do quanto eles estão dispostos a se prender às disciplinas do currículo.

Aos professores, que fique a possível definição de uma insígnia.

12/10/2022